terça-feira, 9 de agosto de 2011

Como um café. Amarga. Deliciosamente amarga. Azeda assim como a lira de quem ama. Porque ela é amor, é café, é do mais simples descer ou engasgar de quem bebe a ela, de quem bebe o sentir. Ela é inexatidão. “Um nó atado. Intransitivo.” Ela é aquilo que transborda desse coração de calidez que abraça o nosso corpo frio de quem sofre. Ela sofre também e isso a faz tão inteira que ela sequer chega a ser metade. Ela faz sentir. E talvez ela só o faça por não saber que sabe fazer sentir. E sabe. Sabe tanto que quando escreve não escreve: sente. As palavras são dela a poesia, a alma. Ela se diz um canal. Mas como já disse, vejo-a mesmo como um café. Exageradamente doce quando se quer sentir o gosto amargo daquela escuridão e excessivamente azedo quando se pede açúcar. Ela é errada, humanamente errada. Ela faz do que é aquilo que sente e do que sou aquilo que ela sente. Admito que sou hoje um pouco da doçura daquela flor e da leveza daquele anjo. Um pouco, só um pouco: porque ela é tão extrema na beleza de ser o que ela é, que é quase impossível ser ela por completo. Ela é uma escada em que se pula os degraus pares. Ela era uma menina que roubava livros e que hoje rouba o sentimento que se tem quando se lê o que ela é: ela sufoca, arranca o ar, exprime nas entrelinhas tudo aquilo que se consegue sentir. E se consegue sentir tudo, e tudo se é exprimido e sufocado até que não reste mais ar. Ela é o sofrimento de uma morte e a felicidade de não perfeito ser. Ela é, da mais vil e errônea felicidade de quem finge, a menina no canto com um livro na mão e o coração nos olhos. Ela é irreal. Encantadoramente irreal. Ela é uma borboleta que um dia foi lagarta e que esbanja no seu viciante voar a mais extrema beleza de ser livre, leve e solta. Mas ela é presa. Presa porque se prende ao que escreve, presa porque faz do que vive um sonho e desse sonho a utopia de viver. Ela, talvez sem perceber, sequer vive.

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